Cristãs de tribos da República Centro-Africana que perdem seus maridos enfrentam desafios com as tradições locais
Leonie é de uma tribo Yakoma que tem diversos ritos para viúvas (foto representativa) |
Leonie, de 45 anos, é uma viúva da cidade de Bangassou, na República Centro-Africana. Quando o marido morreu em 2017, Leonie esperava encontrar algum consolo com a família do falecido marido. Mas como cristã, ela recusou completamente o tradicional ritual de luto que os parentes tentaram impor. A tradição levaria ao afastamento e total separação daqueles que ela esperava que cuidassem dela. O marido de Leonie, pastor Aimé Kombaneya, servia em uma igreja em Bangassou. O casal teve cinco filhos. Durante sua vida, embora ele tenha vindo de uma família muito tradicional, regularmente pregava contra cristãos que mantinham rituais tradicionais, sem saber o sofrimento que causaria à própria esposa mais tarde.
Durante uma rebelião em 2013, que seguiu uma guerra, Bangassou foi afetada seriamente por ataques Seleka. Pastor Aimé era hipertenso e seu corpo simplesmente não pôde enfrentar o aumento de estresse por causa da insegurança. Em julho de 2017, com 63 anos, ele teve um colapso e, infelizmente, morreu a caminho do hospital. Leonie estava grávida de seu sexto filho. “Eu decidi voltar com nossos filhos para a vila do meu marido, próximo a Ngarakpa, a caminho de Bema. Eu não raspei meu cabelo, como exigido das viúvas, mas o escondi. Eu também me vesti normalmente, não usando o tradicional traje de luto. Minha chegada foi desastrosa! Assim que coloquei o pé no local, minha cunhada gritou uma condenação sobre a forma que eu aparentava”.
Leonie e o falecido Aimé são de uma tribo Yakoma que tem, entre outros, extensos ritos para viúvas. “Eu deveria me submeter a um ano de luto, exigindo que não mudasse minhas roupas, não cumprimentasse nenhum homem e não bebesse ou comesse sem a permissão de um membro nomeado da família. Os parentes também deveriam supostamente pagar por cada uma de minhas necessidades até que eu recebesse o banho ritual e me casasse com o irmão mais novo do meu marido. Isso acontece porque um dote foi pago por mim, eu fui comprada por um preço não reembolsável. Como não havia nenhum irmão mais novo, eu deveria me casar com um sobrinho de Aimé”, ela conta.
No ano de luto, a viúva ou sua família, deve pagar uma quantia de dinheiro fixada pela irmã mais velha do falecido ou suas tias. Então, esses membros da família levam a viúva para um banho ritualístico no rio, muito cedo de manhã. Eles tiram as roupas de luto da viúva, que não podem ter sido trocadas por um ano, e jogam água sobre a viúva três vezes, então a lavam. Eles viram o rosto da viúva para leste e oeste por razões desconhecidas antes de trazê-la de volta para o novo marido, para que a vida “normal” possa continuar. (Essa história continua)
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