O governo chinês nega as acusações e se defende dizendo que os campos são “centros de educação e treinamento vocacional”.
Ziawudun caiu em prantos ao identificar as filmagens e imagens dos campos. (Foto: Hannah Long-Higgins/BBC News) |
De acordo com um relatório da BBC muitas mulheres que foram presas em campos de “reeducação”, em Xinjiang, foram submetidas a torturas, abusos sexuais e torturas por parte dos líderes comunistas do país. Aqueles que não seguem as regras cada vez mais rígidas do regime de Xi Jinping são vistos como uma ameaça nacional.
O relatório destaca entrevistas de ex-prisioneiros que contam sobre suas experiências terríveis e de um guarda que passou por um dos campos chineses de tortura. Estima-se que entre 1 e 3 milhões de muçulmanos uigures (de origem turca) e outros grupos minoritários, no oeste da China, foram submetidos a esses campos.
Objetivos do governo chinês
O relatório indica que a meta dos governantes chineses é exterminar com todos aqueles que não seguem as regras comunistas do país. Pessoas de diferentes etnias, culturas, língua e religião estão sendo doutrinadas à força pela cultura chinesa dominante.
Uma mulher que passou nove meses dentro de um desses campos conseguiu fugir para os Estados Unidos. Tursunay Ziawudun, disse à BBC que as mulheres eram retiradas de suas celas, todas as noites, e estupradas por um ou mais chineses mascarados. Ela passou por isso três vezes.
Além disso, foi torturada pela polícia com choques elétricos e levou chutes de um homem que usava uma bota pesada. “Muitas pessoas ‘perderam a cabeça’ nessas celas. O objetivo deles é destruir a todos e todo mundo sabe disso”, disse em entrevista.
De acordo com o relato de Ziawudun, os perpetradores não se controlam. “Eles não só estupram, mas também mordem todo o seu corpo, deixando marcas horríveis. Você não sabe se são humanos ou animais”, disse ela, pressionando um lenço de papel contra os olhos para conter as lágrimas e parando por um longo tempo para se recompor .
Outros casos
Gulzira Auelkhan, uma mulher cazaque de Xinjiang, ficou detida por 18 meses. Ela conta que tinha que despir as mulheres uigures antes de deixá-las sozinhas com homens chineses para serem abusadas. “Meu trabalho era tirar as roupas acima da cintura e algemá-las para que não se mexessem”, lembrou.
“Então, eu deixava as mulheres no quarto e um homem entrava – algum chinês de fora ou policial”, disse. Ela afirma que os comunistas “pagariam para escolher as jovens presidiárias mais bonitas”, afirmando ter testemunhado estupros seguidos de violência física.
Qelbinur Sedik, uma mulher uzbeque de Xinjiang, foi forçada a dar aulas de línguas para as detidas e revelou que o campo das mulheres era “rigidamente controlado”. Ela detalhou que havia “quatro tipos de choque elétrico” a que as mulheres seriam submetidas, sendo “a cadeira, a luva, o capacete e o estupro anal com uma vara”.
Os gritos ecoavam por todo o edifício”, disse ela à BBC. “Eu podia ouvi-los durante o almoço e, às vezes, quando estava na aula”, relatou.
Lavagem cerebral
Os entrevistaram relataram que as sessões de tortura incluíam vídeos de propagandas elogiando o ditador chinês Xi Jinping, além de canções patrióticas enaltecendo o regime comunista. Os prisioneiros eram forçados a fazer exames médicos e obrigados a tomar medicamentos e “vacinas” que causava náusea e dormência. Muitas mulheres foram esterilizadas com a introdução do DIU (método contraceptivo).
Outro ex-guarda da prisão contou que as sessões de “reeducação” incluíam forçar as mulheres a memorizar livros sobre Xi Jinping e as que não conseguissem seriam punidas com privação de comida e espancamentos.
“Eu entrei nesses campos. Eu levei detidos para esses campos”, disse ele. “Eu vi aquelas pessoas doentes, em condições miseráveis. Eles definitivamente sofreram vários tipos de tortura. Tenho certeza disso”, disparou.
Denúncias contra o governo chinês
“O presidente Xi paira sobre os campos. Sua imagem e slogans adornam as paredes; ele é um foco do programa de ‘reeducação’. Xi é o arquiteto geral da política contra os uigures”, disse Charles Parton, ex-diplomata britânico na China e agora membro associado sênior do Royal United Services Institute.
“Não há absolutamente nenhuma dúvida de que esta é a política de Xi Jinping”, sentenciou. Parton acredita ser improvável que Xi ou outras autoridades do partido tivessem autorizado o estupro ou a tortura. “Mas eles certamente estão cientes disso”, continuou.
Resposta da China
O governo chinês não respondeu diretamente às perguntas da BBC sobre alegações de estupro e tortura. Mas, em um comunicado, uma porta-voz disse que os campos em Xinjiang não eram campos de detenção, mas “centros de educação e treinamento vocacional”.
“O governo chinês protege os direitos e interesses de todas as minorias étnicas com igualdade”, disse a porta-voz, acrescentando que o governo “dá grande importância à proteção dos direitos das mulheres”.