Em entrevista ao Guiame, Matheus Ortega, autor do livro “Economia do Reino” falou sobre o papel do cristão em meio a desigualdade social num mundo reinado por Mamom.
Em seu livro “Economia do Reino”, Matheus Ortega fala sobre o papel do cristão em meio a desigualdade e injustiça social. (Foto: Arquivo pessoal). |
Em entrevista ao Guiame, Matheus Ortega, autor de “Economia do Reino”, lançado recentemente pela editora Thomas Nelson Brasil, falou sobre o papel do cristão em meio a desigualdade e injustiça social no mundo e como a Igreja pode se unir para estabelecer o Reino de Deus na Terra.
Desde 2010, o cristão, de 33 anos, trabalha com projetos sociais em países pobres, como Haiti e Namíbia, e atuou no combate à desigualdade social, junto com organizações internacionais como a ONU e o Banco Mundial, gerenciando mais de 100 milhões em verbas.
Formado em Relações Internacionais e mestre em Desenvolvimento Internacional pela London School of Economics, o escritor cristão experimentou as duas faces da desigualdade social: a extrema pobreza e riqueza abundante. Foi através dessas experiências antagônicas, que seu novo livro surgiu.
Depois de viajar ao Haiti com uma organização de ajuda humanitária em 2010, quando um terremoto deixou mais de 1 milhão de haitianos desabrigados, Matheus decidiu buscar respostas sobre como o cristão deveria lidar com a injustiça social.
“Quando eu vi a pobreza, a miséria, com 90% da população desempregada, um país quebrado, me tocou muito e desde então eu falei ‘eu quero dedicar a minha vida para entender como lidar com a pobreza e a riqueza neste mundo”, revelou o autor.
Naquele ano, Matheus viajou quatro vezes para o Haiti e construiu um projeto social para ensinar música aos haitianos. Com a doação de 100 instrumentos, o projeto não ofereceu somente a profissão de músico, mas também ofertou dignidade e esperança a um povo tão sofrido.
“Foi uma oportunidade que Deus me deu para olhar além do meu umbigo. Desde então, eu tenho buscado viver além de mim mesmo”, concluiu o autor.
Além de nós mesmos: porque o cristão deve se importar com a pobreza?
Para Ortega, a desigualdade social é resultado da queda do homem em um mundo caído.
“Tanto a pobreza como a desigualdade são desvios de rotas da criação. Deus criou esse mundo não para existir uns com muito e outros com pouco. Acredito que Deus criou o mundo para todos viverem em abundância num jardim em que há tudo para todos. Existir desigualdade é uma consequência da queda do homem e o cristianismo vem na contramão do mundo trazendo o pobre para o centro da discussão”.
Filho de missionários, Matheus Ortega acredita que o cristianismo tem a resposta para o problema da pobreza.
“Eu não acredito que o mundo tenha a resposta para a desigualdade, acredito que o Reino de Deus é a resposta. É um Reino que traz equidade, não necessariamente uma igualdade em que todos irão ter a mesma quantia de bens. Mas uma equidade em que todos são vistos com honra e dignidade diante de Deus”, diz.
Os 4 perfis
Baseado numa nuvem de testemunhas da Bíblia e da história do Cristianismo, Ortega identificou 4 perfil cristãos para lidar com a pobreza e a riqueza: o doador, o moderado, o transformador e o abnegado. Cada perfil é representado por um dom bíblico diferente, entre os dons descritos pelo apóstolo Paulo, são eles: contribuição, administração, misericórdia e serviço.
“Esses quatro caminhos são muito diferentes entre si, mas são complementares. O doador é aquele que é chamado para contribuir generosamente com o Reino de Deus. O moderado é aquele chamado para administrar os recursos com bom senso. O transformador é quem está buscando mudar as estruturas da sociedade e trazer justiça para a Terra. E o abnegado é aquele que enxerga o abrir mão de recursos como um caminho para servir a Deus”, explica o autor.
Matheus destaca que não existe um perfil mais cristão ou superior, mas que todos possuem espaço e importância no Reino de Deus. “Tanto a pobreza como a riqueza são caminhos possíveis para o cristão. Não existe um caminho perfeito ou superior. O que existe são chamados e dons diferentes. Deus tem seu propósito com cada pessoa no seu contexto, para lidar com o tema da riqueza e da pobreza”, afirma.
Economia do Reino
Criado pelo autor, o conceito de “Economia do Reino”, é um conjunto de valores do Reino eterno de Deus, como generosidade, compaixão, misericórdia e mordomia. A lógica da Economia do Reino é bem diferente da lógica econômica da terra.
“A economia deste mundo preza por ganhos individuais, ou seja, ‘eu quero ganhar na minha carreira, eu quero crescer, lucrar’, ainda que outros percam. Esta é a lógica deste mundo. A lógica do Reino de Deus é ‘eu estou disposto a ter perdas individuais para que existam ganhos absolutos”, explica Ortega.
Matheus afirma que esta lógica foi usada por Jesus Cristo com a humanidade. “Jesus abriu mão de sua vida, de sua glória, deu tudo o que tinha para que o mundo tivesse acesso a vida eterna e a Deus”, esclarece.
Como cristãos, o autor diz que devemos olhar a vida pela perspectiva da economia do Reino, que é a visão da eternidade. “Quando temos este olhar da eternidade, deixamos de ter o olhar imediatista, que é o materialismo, o consumismo, o individualismo, que marcam a sociedade de hoje. A lógica do Reino é uma lógica que vê além de si próprio, que vê o coletivo”, pondera.
Em seu livro, Ortega mostra a importância da união dos quatro perfis para a Igreja cumprir o propósito do Senhor no mundo, funcionando assim como a Economia do Reino de Deus. “Uma vez que cada cristão encontra seu chamado e o vive, junto com demais cristãos vivendo outros dons, se forma a Economia do Reino, uma forma de ajudar uns aos outros, vivendo no mundo com os valores eternos do Reino de Deus”, sustenta o autor.
Matheus Ortega ainda relembra a esperança da glória e o desafio de todo cristão de buscar o Reino de Deus.
“Jesus vai voltar e estabelecer seu Reino. Vai ser um reino perfeito; não ver ter sofrimento, dor, morte, desigualdade. E somos chamados para fazer a oração do Pai Nosso; ‘que venha a nós o teu Reino, assim na terra como no céu’’. E não apenas fazer a oração, mas também buscar na prática como trazer este reino para a terra. Este é o nosso desafio”.