O alerta foi feito através de um relatório que analisa a situação das igrejas para os próximos 5 anos.
Igreja de Santa Maria em Woburn, no sul da Inglaterra. (Foto: Reuters/Toby Melville) |
De acordo com a organização de preservação de igrejas “Friends of Friendless Churches (FFC)”, mais de 360 igrejas da Inglaterra correm o risco de ser fechadas ou demolidas nos próximos cinco anos.
O alerta foi feito com base em um relatório divulgado pelos Comissários da Igreja, órgão que administra as propriedades, em julho. Conforme as estimativas, entre 131 e 368 igrejas, incluindo edifícios históricos, poderiam ser vendidos ou demolidos.
Entre os motivos apontados estão a perda de dízimos e doações durante o período em que as igrejas foram forçadas a permanecer fechadas, por ordem do governo durante a pandemia por Covid-19.
Tendências recentes
Se muitas igrejas não reabrirem de forma sustentável, então outros fechamentos podem ser necessários, mais cedo ou mais tarde”, afirmou o relatório que se baseia em pesquisas realizadas pelas dioceses, pensando nos próximos cinco anos.
Doze dioceses responderam que cada uma estava “planejando fechar” até 5 igrejas; Nove estimaram entre 6 e 12 fechamentos; e cinco estão planejando fechar até 40.
E ainda acrescentou: “Quatro dioceses em nossa pesquisa estavam pensando em fechar 152 igrejas a médio prazo (cinco anos), o que representaria um aumento significativo em relação às tendências recentes”, diz ainda o relatório.
A taxa de fechamentos de igrejas, então, seria até oito vezes mais rápida do que antes da pandemia”, relatou o The UK Times. A Igreja na Inglaterra tem cerca de 16 mil templos. Em 1941, esse número era 18.666.
Mudança cultural da fé
Os autores também atribuíram a tendência de queda a uma “forte mudança cultural da fé anglicana” e a menos pessoas comparecendo aos cultos.
Outros podem argumentar que também é um reflexo da secularização da população e dos cristãos que trocam as igrejas anglicanas por católicas ou evangélicas.
Durante a década de 1990, o fechamento de igrejas permaneceu consistente, entre 20 e 25 fechamentos por ano. Os motivos eram porque as congregações das aldeias eram consideradas muito pequenas ou não eram mais capazes de manter as despesas de manutenção contínua.
Entre 1969 e 2021, 2.013 igrejas foram fechadas, conforme o relatório. Isso foi feito entregando os edifícios a outras denominações ou vendendo-os para serem transformados em habitações, lojas, escritórios ou centros comunitários. Mais de 500 dessas igrejas foram demolidas.
No início deste ano, 42 bispos diocesanos da Igreja Anglicana foram acusados de viver estilos de vida suntuosos financiados pela denominação, enquanto deixavam as igrejas dos vilarejos e seus paroquianos abandonados.
‘Fechamento de igrejas pode ser traumático para a comunidade’
A onda de fechamento de igrejas afetou inúmeras denominações na Inglaterra. De acordo com o Instituto Gatestone, de 2001 a 2017, cerca de 500 igrejas em Londres foram fechadas e transformadas em residências particulares.
Estatísticas do Instituto de Pesquisas Sociais NatCen mostram que, entre 2012 e 2014, o número de britânicos que se identificam como anglicanos caiu de 21% para 17% da população, o que representa uma diminuição de 1,7 milhão de pessoas. Dados das pesquisas de “Atitudes Sociais Britânicas” também mostraram que aqueles que se identificaram como não filiados à religião na Inglaterra e no País de Gales eram em número maior do que os cristãos.
Entre as preocupações que os paroquianos e as organizações de preservação de igrejas levantaram é que os residentes locais não são mais consultados antes que uma diocese feche uma igreja.
“As igrejas paroquiais são edifícios públicos, originalmente construídos e dotados localmente e todos os membros da paróquia, sejam anglicanos praticantes ou não, têm o direito de ser ouvidos e devidamente considerados. Mas os comissários propõem reduzir os direitos do público neste caso”, disse a FFC numa postagem do Twitter .
A instituição de caridade para preservação da igreja acrescentou que “deve haver uma oportunidade razoável para toda a comunidade contribuir com suas opiniões”.
Também parece haver uma falha em apreciar a relação que a Igreja tem com o Estado, especialmente em termos de dinheiro público que recebeu para reparar os seus edifícios.
Em resposta às preocupações, os comissários da Igreja acrescentaram: “Para a comunidade da Igreja, o fechamento e a reutilização de igrejas são frequentemente vistos como um fracasso. O fechamento pode ser traumático para uma comunidade, mas na linguagem das políticas públicas é uma transição, ao invés de uma morte”, concluiu o relatório.