Um deles explica que a ciência está do lado certo, pois está ajudando um ser humano a viver em vez de modificar seu DNA.
Momento da cirurgia para o transplante de coração de porco. (Foto: Divulgação/University of Maryland) |
De acordo com o Christian Medical Fellowship (CMF) — uma organização cristã que une médicos, estudantes de medicina e enfermeiros, no Reino Unido — a ciência está do lado certo da linha ética e dá boas-vindas ao transplante de coração de porco em seres humanos.
Nos Estados Unidos, pela primeira vez na história, médicos transplantaram um coração geneticamente modificado de porco para um homem. O paciente que recebeu o transplante é David Bennet, de 57 anos.
Ele tinha uma doença cardíaca terminal e, antes da cirurgia, disse que as opções dele eram morrer ou fazer o transplante, e ele queria viver. A operação foi realizada por especialistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, no Centro Médico da universidade, nos Estados Unidos.
Sobre a cirurgia
A cirurgia inédita e revolucionária aconteceu na sexta-feira (7) e, quatro dias depois, David já estava bem e se recuperando, de acordo com os médicos.
Para Fernando Bacal, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia, é um marco histórico na medicina. Ele explica que obstáculos foram vencidos com modificação genética para sucesso da cirurgia, conforme entrevista à CNN.
Apesar do coração de um porco ser parecido com o de um humano — eles têm até o mesmo tamanho — as outras tentativas falharam porque as diferenças genéticas fizeram o corpo rejeitar o coração.
Para evitar isso, o animal que foi o doador de David foi modificado geneticamente, de acordo com reportagem do G1. Os cientistas retiraram do coração do porco três genes ligados à rejeição e inseriram seis genes humanos para facilitar a aceitação do corpo de David ao novo órgão.
Desafios a serem enfrentados
O cardiologista afirmou que existe o risco de viroses animais serem transmitidas para humanos através dos chamados xenotransplantes — transferência de tecidos de uma espécie para outra, feita de forma cirúrgica.
Também em entrevista à CNN, o cardiologista Roberto Kalil Filho, apresentador do programa CNN Sinais Vitais e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que a ciência atua na busca por transplantes entre espécies há mais de quarenta anos.
“Isso abre caminho para vários tipos de transplantes, não só o coração, como de vários órgãos. A ciência caminha a passos largos e a prova foi essa cirurgia. Provavelmente, você vai abrir o leque para vários órgãos. Com isso, você vai salvar milhões de vidas”, ele afirmou.
Opinião de médicos cristãos
O chefe executivo da CMF, doutor Mark Pickering, disse que, embora esses tipos de operações possuam a tendência de levantar preocupações éticas, neste caso “estamos no lado certo da linha, pois estamos ajudando um ser humano a funcionar plenamente por um pouco mais de tempo, em vez de modificar seu DNA”.
“Acho que a questão toda é: 'você está modificando a espécie?' e neste caso, você não está porque esse doador vai morrer em algum momento de qualquer maneira, isso não vai mudar nada para seus descendentes”, justificou.
Se for bem sucedido, os cientistas esperam que os órgãos de porco possam ajudar a aliviar a escassez de órgãos doados.