Neuralink prepara testes para implantar chip em cérebro humano e cientistas fazem alerta

“Esses caras da tecnologia agem como se não houvesse um ser humano por trás do que será feito”, disse um deles.

Elon Musk, dono da startup Neuralink. (Foto: NVIDIA Corporation/Flickr)

Depois de realizar testes em porcos e macacos, a Neuralink, empresa do bilionário Elon Musk e que desenvolve chips cerebrais, agora se prepara para os primeiros testes em seres humanos. 

Para Musk, os microchips de inteligência artificial (IA), do tamanho de uma moeda, “possibilitarão que indivíduos com paralisia consigam utilizar um smartphone apenas com a mente e mais rápido do que com os dedos”. 

A ideia dele, no entanto, não agradou a comunidade científica que alega que o assunto deve ser melhor pesquisado antes de qualquer ação prática em humanos. Além disso, há uma série de preocupações éticas sobre as quais a Neuralink ainda não se manifestou.

Preocupações éticas mais relevantes

Entre as alegações de cientistas e empresários, o lado comercial do projeto não tem respostas quando o questionamento é sobre a confiabilidade dos dados coletados, por exemplo.

“Se a Neuralink vier à falência por qualquer motivo, quem vai controlar os dados coletados pelos chips já implantados nos pacientes? Quem fica com as informações das atividades cerebrais caso a empresa seja comprada por alguma entidade estrangeira?”, essas foram as questões levantadas.

Além disso, não houve respostas de Musk sobre qual a durabilidade desses chips e se a Neuralink cobrirá os custos de upgrades para os pacientes em testes. Cientistas ouvidos pelo site americano de notícias, Daily Beast, levantaram ainda diversas preocupações

“E se hackers invadirem os cérebros e os vírus de computador passarem a infectar os humanos através do chip? E se surgirem versões ‘piratas’ do chip atraindo as pessoas que não puderem pagar pelo produto original?”, questionaram.

“O que eu já vi é que nós somos muito bons em implantar um dispositivo. Mas se algo der errado, nós não temos a tecnologia para explantá-lo sem causar algum tipo de dano ao tecido”, acrescentou Laura Cabrera, pesquisadora de Neuroética na Universidade de Penn State.

Liberdade em jogo

“O nosso cérebro é a nossa liberdade, o ponto mais primordial da nossa privacidade. Existe o risco de mal uso por corporações, por governos e por hackers”, disse Nita Farahany, pesquisadora de tecnologias emergentes na Escola de Direito da Universidade de Duke.

“Quando você tem uma empresa como a Neuralink prometendo entrar em testes humanos, eu penso que isso deveria deixar o mundo em um estado de alerta, de que a hora para desenvolvermos conceitos mais robustos de liberdade cognitiva é agora”, ela enfatizou.

O médico pioneiro da neurociência Miguel Nicolelis, que dirige um laboratório BCI na Duke University, recentemente fez duras críticas à Elon Musk e sua empresa. “Musk não entende nenhum pouco de neurociência e o que é o cérebro. Ele mal sabe onde está localizado”, disparou. 

Nicolelis disse que se preocupa com os riscos de uma cirurgia cerebral para a implantação do chip. “O que vejo é a maioria desses caras da tecnologia, indo lá e falando sobre tecnologia como se não houvesse um ser humano por trás do que será feito”, alertou.

Antes da publicação da reportagem, o Daily Beast afirmou que enviou todos os questionamentos à Neuralink, porém não obteve retorno. 

Opinião teológica

Também há dilemas religiosos quando o assunto é implante de chip em cérebro humano. O próprio Stephen Hawking chegou a dizer que a humanidade vive o “ápice da criatividade”, mas que isso também poderia significar o início de seu abismo. 

Enquanto o bilionário Musk tenta justificar a urgência de se implantar chips em  cérebros humanos, há teólogos alertando sobre o excessivo controle sobre a humanidade

pastor Lamartine Posella, por exemplo, sempre posta vídeos em seu canal no YouTube fazendo alertas e apontando para as profecias bíblicas. Ele acredita que o microchip implantado no cérebro pode ser um artefato de grande utilidade para certos governos.

Ele também aponta para o armazenamento dos dados das pessoas. “Eles saberão para onde você vai, o que você faz e até o que você fala. Eu não tenho dúvida de que estamos caminhando para uma era de controle”, observou já em maio do ano passado.

“Me desculpem, não gosto de teorias de conspiração, mas isso tem muito a cara de ser o instrumento que o Anticristo vai usar para governar o mundo inteiro. Tudo o que estamos vivendo é surreal. Eu estudo sobre o assunto desde 1992 e posso dizer que a coisa está mais perto do que nós imaginamos”, disse ainda na ocasião. 

Apesar das críticas, Musk segue em frente

Apesar das críticas e da polêmica causada, Musk segue em frente com seus planos. Na semana passada, ele confirmou que sua empresa já contratou um diretor de testes clínicos para ajudar nessa transição da avaliação da tecnologia de animais para os seres humanos. 

E deixou claro que tem desejos maiores, como “impedir a humanidade de cair no esquecimento” através de “download e upload da consciência” em máquinas.

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