Voz dos Mártires rotulou o Afeganistão como um país "restrito", onde "espancamentos, torturas e sequestros são rotina" para os cristãos.
Afeganistão está de volta ao que era em 2001, diz Saboor Sakhizada, tradutor afegão. (Captura de tela/Fox News) |
Tortura e perseguição fazem parte da rotineira dos cristãos que permanecem no Afeganistão após a tomada do Talibã. Segundo grupos humanitários e de vigilância, eles são vítimas do governo, de seus próprios amigos, famílias e comunidades.
"Ainda há cristãos no Afeganistão", disse Todd Nettleton, autor e apresentador de rádio que trabalha para a ONG humanitária internacional Voice of the Martyrs. "Acho que durante a tomada do Talibã, há um ano, houve muita cobertura que sugeria que todos os cristãos haviam fugido do país".
Em entrevista à Fox News Digital, Nettleton explicou que quando o governo afegão caiu ano passado, muitos cristãos fugiram porque conheciam a teologia linha-dura do Talibã e a intolerância em relação aos cristãos, especialmente aqueles que se converteram do islamismo.
Ele contou que muitos que eram conhecidos por terem renunciado ao islamismo pelo cristianismo escaparam para outros países. Mas os potencialmente milhares de cristãos que permanecem enfrentam desafios profundos.
"Essas são as pessoas que tomaram a incrível decisão ousada de permanecer no país", disse Nettleton. "E a atitude deles foi: 'Olha, se todos os cristãos fugirem do país, quem estará aqui para compartilhar o Evangelho, quem estará aqui para ser a igreja?' E então eles tomaram a corajosa decisão de ficar, mesmo sabendo que o Talibã assumiria o controle; sabendo que era uma coisa muito arriscada."
Restrições severas
Defensora dos direitos humanos dos cristãos perseguidos em todo o mundo, a Voz dos Mártires foi fundada em 1967 por Richard Wurmbrand, um luterano de ascendência judaica que foi preso e torturado pelo regime comunista da Romênia por 14 anos por causa de sua fé.
No guia de oração publicado todos os anos pela Voz dos Mártires, a organização rotulou o Afeganistão como um país "restrito", onde "espancamentos, torturas e sequestros são rotina" para os cristãos.
Os cristãos também são proibidos de adorar ou evangelizar abertamente no país, onde a população é 99,8% muçulmana e os governos locais e nacionais são "altamente antagônicos" aos crentes cristãos.
Muitos cristãos são martirizados no país, e parte deles geralmente morre "sem conhecimento público", explica ainda o guia. Já os "conversos do Islã são frequentemente mortos por familiares ou outros muçulmanos radicalizados antes que qualquer processo legal possa começar".
Nettleton apontou que enquanto as condições para a liberdade religiosa "certamente pioraram" por causa do Talibã, "a primeira linha de perseguição são os membros de sua família, são seus vizinhos".
Desaparecimentos
A organização diz que ex-muçulmanos que se convertem e depois não aparecem para as orações na mesquita local geralmente enfrentam suspeitas de suas comunidades de que se tornaram cristãos.
Nettleton lembrou de um homem afegão com quem sua organização está em contato e que foi forçado a mudar sua família três vezes por tais razões durante os primeiros oito meses do regime restaurado do Talibã.
No entanto, ele diz que está esperançoso de que o renascimento cristão seja possível no Afeganistão, pois seu povo vê o quão mal o Talibã os está tratando.
Como o Talibã segue os passos de Maomé e adere à interpretação mais pura do Alcorão, Nettleton disse que a opressão do regime pode levar alguns a questionar os méritos do Islã.
"Eles veem uma economia em ruínas, veem pessoas passando fome", relata Nettleton. "E eles vão começar a se perguntar: 'Se é assim que os melhores muçulmanos governam um país, eu realmente quero ser o melhor muçulmano? Eu quero seguir o Islã? O Islã tem as respostas que eu quero?' E é isso que eu espero que aconteça."
Pedidos de oração
Nettleton conta que os cristãos perseguidos no Afeganistão que falam com sua organização pedem que seus companheiros cristãos em todo o mundo orem por eles.
David Curry, um comissário da Comissão Federal dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF), que também atua como CEO da Portas Abertas americana, reforça as afirmações de Nettleton. Ele transmitiu à Fox News Digital a história de um cristão afegão chamado Saad, que confirmou que o Talibã tinha uma lista de cristãos que eles distribuíram no ano passado na tentativa de caçá-los.
"Muitos cristãos fugiram do Afeganistão quando o Talibã assumiu", disse Curry. "Alguns ficaram porque querem ser 'sal e luz' em um sentido teológico naquele país, embora tenha se tornado mais hostil."
"Então, eles querem fazer parte da comunidade", acrescentou. "Eles amam seu país. É totalmente compreensível porque muitos fugiram, mas ainda hoje existe uma comunidade cristã em apuros no Afeganistão."
A USCIRF alertou na época da retirada dos EUA no ano passado que o Talibã estava indo de porta em porta procurando cristãos convertidos, aliados dos EUA, ex-funcionários do governo e ativistas de direitos humanos.
Em um relatório divulgado em agosto, a comissão reiterou que a liberdade religiosa no Afeganistão "se deteriorou drasticamente" desde que o Talibã retomou o poder.