Andrew Brunson disse que não é o tipo de mensagem que ele queria transmitir, mas foi a que Deus lhe deu.
Pastor Andrew Brunson, na Festa dos Tabernáculos, organizada pela Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém. (Foto: Reprodução/Facebook International Christian Embassy Jerusalem, ICEJ) |
A mensagem do pastor Andrew Brunson é direta, mas está longe de ser simples: “A Igreja precisa se preparar para uma onda sombria de perseguição que está chegando”.
Preso por dois anos sob falsas acusações de terrorismo na Turquia, o experiente missionário disse que, em meio às dificuldades, perdeu até mesmo a noção da presença de Deus e teve pensamentos suicidas durante seu encarceramento.
“Comecei até a questionar a existência de Deus”, disse Brunson. Pode parecer difícil para um cristão receber esse tipo de informação mas, apesar de sombrio, seu testemunho é inspirador.
‘Posicionar-se por Jesus será algo controverso’
Brunson e sua esposa Norine — que foram missionários na Turquia por 23 anos antes da prisão — estiveram em Israel, neste mês, para a celebração da Festa dos Tabernáculos, organizada pela Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém.
Brunson ensinou o que ele acredita que os cristãos devem saber para enfrentar julgamentos e provas que certamente virão. Em entrevista ao All Israel News, o pastor disse que esta não é a mensagem que ele prefere transmitir, mas é a que Deus lhe deu.
Ele prevê uma perseguição cultural e social chegando aos Estados Unidos, onde a exclusividade de Jesus como único caminho para a salvação se tornará uma postura controversa.
“A maioria das instituições da sociedade está apoiando coisas que um fiel seguidor de Jesus não pode abraçar. É assim que eles vão justificar a perseguição”, explicou Brunson.
Consequências para quem abraçar o Evangelho
Os crentes que defendem a verdade do Evangelho serão marginalizados nas escolas, faculdades, empregos, bancos, entre outras instituições, conforme aponta o pastor.
“A pressão para se conformar vai se manifestar socialmente e, eventualmente, financeiramente. Isso vai testar a determinação dos cristãos”, disse.
“O que emergiu como o principal foco foi a identidade de gênero e ideologia LGBT. E onde quer que isso se cruze com a liberdade religiosa, o movimento LGBT está vencendo”, advertiu.
“Agora há uma exigência de que as pessoas não apenas tolerem, mas que abracem e celebrem essa ideologia. E se você não fizer isso, você é visto como alguém que é odioso”, continuou.
Falsas acusações de ódio e intolerância
Infelizmente, conforme o pastor explica, a geração mais jovem de crentes e até mesmo muitas igrejas estão se afastando dessas questões ideológicas: “Não apenas porque trará pressão de fora, mas porque dividirá a igreja.
Com isso, a Igreja está recuando do ensino da verdade. Brunson avisa sobre o engano que já se infiltrou entre os cristãos: “A próxima geração ficará confusa”, advertiu.
“Nos Estados Unidos, temos um problema: a cultura é majoritariamente cristã com valores judaico-cristãos, mas é pós e anticristã. É aqui que está a verdadeira tensão agora”, refletiu.
Ele explica que uma das maiores dificuldades será a perseguição expressa através de falsas acusações de ódio e intolerância, em vez de acusações ligadas diretamente à fé. No caso de Brunson, ele foi atacado injustamente com falsas acusações políticas.
‘O povo de Jesus será visto como um povo de ódio’
“Quando eu estava na Turquia, se eles tivessem dito 'Andrew Brunson é um plantador de igrejas', eu receberia a acusação com orgulho. Em vez disso, eles disseram: 'Ele é mau, é um terrorista', então eu me tornei uma figura de ódio”, compartilhou.
“As pessoas que permanecerem fiéis serão vistas como um povo de ódio. A mesma coisa aconteceu com Jesus. Eles disseram que Ele era demoníaco e, eventualmente, eles o mataram”, relacionou.
Por que Andrew Brunson é perseguido?
Brunson foi envolvido em uma repressão a ativistas e líderes militares acusados de tentar derrubar o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan, em 2016.
Norine também foi presa e libertada após duas semanas. Seus filhos — todos na América na época — não tiveram notícias de seus pais no início. Nos dois anos seguintes, Norine permaneceu na Turquia, pois era a única pessoa autorizada a visitar Andrew na prisão.
Inicialmente, enfrentando três sentenças de prisão perpétua, e apesar de sofrer perseguição anterior de outras formas como missionário, Brunson disse que não estava preparado para o deserto espiritual que enfrentou na prisão.
Ele chegou a ser colocado em confinamento solitário e, outras vezes, teve de suportar o isolamento como o único cristão entre 22 muçulmanos em uma cela feita para oito pessoas.
Acusado de ser um “espião americano”
A prisão de Brunson chamou a atenção da Casa Branca e da Igreja. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, se interessou pessoalmente pelo caso e mencionou repetidamente o nome de Brunson em uma reunião com Erdoğan.
Após esse contato inicial, Brunson disse que uma enxurrada de propaganda foi publicada na mídia turca acusando-o de ser um espião americano ou mesmo o chefe da Agência Central de Inteligência.
O ex-vice-presidente Mike Pence, que é cristão, também manteve a pressão sobre o governo turco na época.
“Se a Turquia não tomar medidas imediatas para libertar este inocente homem de fé e mandá-lo de volta para a América, os Estados Unidos vão impor sanções significativas à Turquia até que o pastor Andrew Brunson esteja livre”, twittou Pence, em julho de 2018.
De fato, os EUA impuseram sanções. O mercado de ações turco perdeu 40 milhões de dólares (quase 210 milhões de reais) e a moeda do país, a lira, entrou em colapso. Com isso, houve ainda mais motivos para tentar culpar Brunson de ser um espião.
“Queremos ver a bênção de Deus na Turquia”
No final de julho de 2018, Brunson foi detido em sua casa em Izmir, Turquia — onde liderou uma igreja evangélica — para aguardar julgamento. Então, em 12 de outubro do mesmo ano, Brunson foi condenado.
A condenação se baseou no falso testemunho de conhecidos de longa data de seu ministério. Mas ele e Norine puderam deixar a Turquia.
“A última coisa que dissemos foi: 'Amamos a Turquia'. Não foi um amor ingênuo, mas sabíamos que Deus havia colocado Seu amor sobre nós. Não é um amor expresso emocionalmente, mas no compromisso e no desejo de ver o bem chegar àquela nação”, disse.
“Queremos ver a bênção de Deus na Turquia, ver as pessoas se conscientizarem sobre Jesus. Saímos da Turquia abençoando aquele país”, continuou.
Mensagem à Igreja no mundo
Segundo o pastor Brunson, Deus orquestrou seu tempo na prisão para que ele pudesse transmitir uma mensagem de preparação para a Igreja.
“Deus me deu a tarefa de preparar as pessoas para as dificuldades. Não é a mensagem que eu prefiro transmitir, mas é a que Deus me deu”, disse em entrevista ao Al Israel News.
Recentemente, ele gravou uma série de ensino chamada “Prepare to Stand” (Prepare-se para resistir) na qual ele compartilha lições que espera que ajudem os crentes a sobreviver a uma próxima onda de perseguição.
Citando Daniel 11.32: “O povo que conhece ao seu Deus se esforçará e fará proezas”, ele diz que essas palavras devem ser compreendidas da maneira certa.
“Não é hora de pensar nas proezas, concentre-se na primeira parte [se esforçará ou resistirá], caso contrário, você não estará em pé para fazer as proezas e as atribuições que Deus tem para você em um ambiente muito mais sombrio”, apontou.
Em seus ensinamentos, tanto em seus vídeos quanto durante a Festa dos Tabernáculos, em Jerusalém, Brunson enfatizou que ficou surpreso por ter caído tão rapidamente, a ponto de até questionar a existência de Deus.
Como se levantar após a queda?
Brunson conta que, para se reerguer passou a declarar que “Deus existe” e se firmou nas disciplinas espirituais da oração e adoração, declarando todos os dias a fidelidade de Deus. Além disso, considerou aceitar que a vontade de Deus poderia não incluir a sua libertação.
“Se nos concentrarmos na preparação do coração agora, provavelmente seremos mais vitoriosos sobre a perseguição. E isso inclui alinhar nossos corações e determinar os padrões morais de Deus que agora são vistos como prejudiciais à sociedade”, alertou.
Brunson conclui que não há como participar da comunhão com Jesus sem reconhecer seu sofrimento. “Há uma diferença entre o amor verdadeiro e um amor não comprovado”, observou.
Brunson disse que teve que provar seu amor permanecendo fiel mesmo quando se sentiu abandonado por Deus: “À medida que entrarmos em um momento de grande turbulência e enfrentarmos dificuldades e provas, Jesus pastoreará seu coração. Apoie-se nisso, pois Ele está comprometido em levá-lo adiante”, finalizou.