“Muitas igrejas atendem demandas das pessoas em vez de pregar o Evangelho”, alerta pastor

Glauco Barreira falou sobre os desafios que a Igreja e pastores enfrentam na sociedade pós-moderna, na Expoevangélica.

Glauco Barreira na Expoevangélica 2023, em Fortaleza. (Foto: Marcos Paulo Correa/Guiame)

O Pastor Glauco Barreira – líder da Igreja Batista Renovada Moriá, autor e jurista – falou sobre os desafios que a Igreja e pastores enfrentam na sociedade pós-moderna, em entrevista ao Guiame, durante a Expoevangélica 2023, em Fortaleza.

Comentando sobre a tentativa de retirar partes da Bíblia consideradas politicamente incorretas por parte de algumas pessoas, o pastor explicou que isto é um sintoma de uma sociedade autoritária. 

“É reflexo de uma sociedade pós-moderna, que é relativista e também um reflexo de uma sociedade autoritária que quer evitar a discussão de certas coisas. Primeiro, tivemos uma relativização da verdade, do que é certo e do que é errado. E, agora, alguns que detêm o controle querem dizer o que pode ou não ser falado”, diagnosticou o escritor.

O pastor alertou sobre o perigo do autoritarismo e defendeu a liberdade de pensamento. 

“Aqueles que não querem que certas coisas sejam ouvidas, estão encontrando outras formas de manipular. Isso é mais que pós-moderno, isso é autoritário. Isso é o que aconteceu na Alemanha que conduziu ao nazismo, e o que aconteceu na Rússia que conduziu ao comunismo”, observou Glauco.

“Nós devemos estar em um ‘mercado livre de ideias’, uma sociedade de livre expressão. Nós imaginávamos que com o surgimento das redes sociais, aumentaria a participação das pessoas. Mas, estamos vendo o contrafluxo, à medida que mais pessoas podem participar, menos assuntos podem ser falados”, disse.

Assista a entrevista completa:

Desafios da Igreja em tempo de desconstrução

O líder lembrou que o apóstolo Paulo avisou que os últimos dias seriam trabalhosos. “O nosso grande desafio é que estamos falando à pessoas que estão sendo aculturadas. No passado, nós tínhamos uma sociedade que preservava muitos resquícios da influência cristã, que a formou e que ainda serviu de referencial, até para convencer as pessoas das verdades bíblicas”, pontuou Barreira.

“Mas hoje temos pessoas sendo formadas em escolas e universidades, que desconstroem todos os valores. Há o entretenimento, filmes e séries, desconstruindo tudo o que prezamos. Então, elas estão sendo aculturadas dentro dessas ideologias de descontrução”, explicou.

De acordo com o pastor, a Igreja e os líderes cristãos enfrentam desafios para discipular na pós-modernidade.

“O nosso grande desafio é que não temos tanto tempo com as pessoas quanto a escola e a internet tem. Temos que conquistar a atenção delas para aquilo que dizemos e ensiná-las, não apenas o que se deve crer, mas ensiná-las a serem vigilantes para discernir. Nós temos que ensinar muito mais que regras, temos que ensinar princípios”, diagnosticou Glauco.

“Pastoreados” na internet

Hoje, muitos cristãos têm feito da internet sua igreja; sendo pastoreados através das redes sociais e trocado o aconselhamento pastoral por caixinhas de perguntas no Instagram.

Porém, segundo o escritor, congregar em uma igreja local e ser pastoreado pessoalmente é essencial para a vida espiritual do cristão.

“A Bíblia enfatiza muito isso. A Igreja primitiva perseverava na comunhão, no partir do pão, uma coisa que nunca poderia acontecer na internet. Num mundo que está cada vez mais frio, onde as pessoas estão se distanciando, com os seus relacionamentos mediados pela via eletrônica, a Igreja tem que ser o lugar em que vai se preservar o calor, o amor fraternal, a comunhão direta”, defendeu.

Ele ainda acrescentou que na web as pessoas enfrentam o risco de serem “lideradas” sem responsabilidade. 

“A internet tem de tudo. Tem pastores, pregadores que poderão não responder pelas consequências de suas mensagens, que podem dizer as coisas mais absurdas. Que não tem que cuidar de um rebanho. O pastor que está na igreja local, orando por ela, lutando, acompanhando os problemas, esse vai ser cuidadoso no que vai dizer”, afirmou.

E completou: “Temos que valorizar a comunidade. Acho que é essa é uma grande oportunidade. O mundo está cada vez mais desintegrado, os relacionamentos estão cada vez mais frios, as pessoas estão caindo em depressão, em vazio existencial. Nesse momento, a Igreja tem que ser um lugar de abrigo. Se a Igreja entender porque foi constituída, pode fazer a diferença nessa geração, onde as pessoas vão encontrar companheirismo e ânimo”.

Crescimentos de evangélicos no Brasil

Sobre o crescimento do número de evangélicos no Brasil nos últimos anos, o pastor afirmou que é necessário avaliar o aumento.

“Primeiro, temos que ver em que direção está havendo esse crescimento: o que as pessoas estão querendo e o que as igrejas estão oferecendo”, ponderou Barreira. 

“Porque estamos vivendo em uma sociedade por atendimento a demandas. Há pesquisas sobre o que as pessoas querem e esperam. E muitas igrejas tem procurado atender as demandas das pessoas em vez de pregar o Evangelho com fidelidade”, criticou o pastor.

E questionou: “A grande preocupação é essa: nós estamos crescendo, mas são as pessoas que estão querendo o verdadeiro Evangelho ou será que nós estamos adaptando o Evangelho ao que elas querem”. 

Para Glauco, falsas conversões podem prejudicar a igreja no futuro. “Não basta a inchação, que é o aumento numérico, que não representa efeitos qualitativos. Nós temos que ver se realmente as pessoas estão passando pela experiência do novo nascimento. Ser criteriosos na admissão de membros, de batismos. Porque muita gente entrando despreparada pode formar as pessoas que, no futuro, vão levar a igreja a esvaziar sua mensagem para atender ao que elas querem”, concluiu. 

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