“Deus me deu vontade de viver novamente, colocou novos sonhos em meu coração”, afirmou Cibele.
Cibele Nylander. (Foto: Arquivo pessoal) |
Ao afirmar que “a luta não respeita o luto”, Cibele de Lima Nylander, 47 anos, compartilha seu testemunho com o objetivo de edificar a Igreja da qual faz parte.
Nascida em lar cristão, Cibele é filha de pastores — Daude e Eni — e sempre participou das atividades da igreja. “Fui criada em escola dominical, nos caminhos do Senhor e sou fruto de pai e mãe que tinham os joelhos no chão pelos filhos”, disse.
Casada há quase 25 anos, Cibele é esposa de Quildare Rodrigues Nylander — conhecido carinhosamente por Tuda — e tem dois filhos, Kauã de 20 anos e Pietra de 15 anos. Na última sexta-feira (04), ela falou a um grupo de mulheres da Igreja Batista em Santo André, onde contou detalhes sobre sua vida, antes e depois de perder a visão.
Aos 15 anos, Cibele foi diagnosticada com glaucoma — uma doença que atinge o nervo dos olhos, levando à perda de células da retina. “Quando eu estava com 37 anos, tive o descolamento de retina. Eu estava amarrando meu tênis e quando me levantei não enxerguei mais nada”, contou.
Há 10 anos que Cibele não enxerga o mundo físico, mas garante que seu mundo espiritual é visível e tem cores lindas e inimagináveis. Em entrevista ao Guiame, ela acrescentou mais algumas lições de vida para quem tem fé e quer vencer.
‘Os piores momentos da minha vida’
Cibele apelidou seus dias mais difíceis como “olho do furacão” e disse que, um dia, quando estava chorando muito, Deus deu a ela um versículo bíblico que está em Salmos 3.3: “Mas tu, Senhor, és o escudo que me protege; és a minha glória e me fazes andar de cabeça erguida”.
“Desde então, eu costumo dizer que esse versículo ‘é meu’, mas eu empresto a vocês”, disse divertidamente. Em seu testemunho que intitulou como “Não desistir é uma escolha”, ela descreve a força da superação.
Depois de passar por aproximadamente 20 cirurgias que ela descreve como “horríveis e difíceis”, Cibele conta que precisou lidar com outros problemas paralelos, entre eles, o silêncio de Deus.
“O pior dia foi quando eu estava de repouso absoluto, meu marido precisou ser hospitalizado com suspeita de dengue ou leucemia e meus dois filhos tiveram febre alta. Se eu não tivesse Jesus, eu não aguentaria o tranco”, reconheceu.
‘Eu vou louvar e adorar o meu Deus’
Com o marido hospitalizado, Cibele conta que os pais levaram os dois filhos ao hospital e ela ficou sozinha em casa: “Eu não podia chorar porque a cirurgia era nos olhos e eles estavam cheios de pontos, além disso, não poderia aumentar a pressão”.
“Bateu um desespero, eu só sentia vontade de gritar e de chorar. De repente, eu ouvi uma risada alta em meus ouvidos. Eu sabia que era o inimigo rindo de mim e da minha situação. Naquele momento, eu falei com a autoridade do Senhor: Quanto mais você me bater, mais eu vou louvar e adorar o meu Deus”, lembrou.
No mesmo dia, o marido recebeu alta e o diagnóstico médico não se confirmou. Os filhos ficaram bem “e o furacão passou”. Mas, Cibele ainda teve estresse, depressão, crise de ansiedade e síndrome do pânico, enfrentando dias em que sentiu vontade de morrer.
“Cheguei a pedir para Deus me levar por não me achar mais necessária, nem para Ele e nem para mais ninguém. Mas, Deus foi claro ao dizer: Você está viva porque eu quero”, frisou.
‘A luta não respeita o luto’
Em toda essa situação de sua vida, Cibele disse que aprendeu algo valioso para a sua jornada: “A luta não respeita o luto”. A cristã compara a perda de sua visão a uma espécie de luto, já que sua perda foi grande.
“Eu orava pedindo a Deus uma única coisa: Pai, não me deixe perder a fé. Eu sei que a fé vem pelo ouvir, mas ouvir da Palavra de Deus. Não adianta querer alimentar a fé de outra coisa, seja filme, seja louvor, precisamos da Palavra”, enfatizou.
“Além disso, a minha mente não podia ficar vazia, porque eu estava extremamente vulnerável. Eu chorei durante um ano, todos os dias. Eu olhava para a minha condição e achava que não conseguiria mais viver”, recordou.
Cibele resumiu sua dificuldade lembrando que “quem nasce deficiente visual tem uma condição, mas quem perde a visão no meio da vida tem outra”. Ela continuou explicando: “Alguns perdem a visão gradativamente, mas eu perdi num piscar de olhos. Foi muito repentino”.
‘Tive que reaprender tudo’
Cibele compartilhou sobre as pessoas que queriam dar explicações sobre sua perda de visão, tentando encontrar motivos nela ou questionando onde estava Deus: “Eu tive muitos ‘amigos de Jó’ ao meu redor”, ela comparou.
Mas, Cibele sabia que era preciso lutar contra a situação e crer que Deus lhe devolveria a alegria: “Um dia, meu marido e meus filhos me chamaram para ir ao parque, eu não queria mais sair de casa, mas o Espírito Santo mostrou o quanto minha família estava se esforçando para me ajudar”.
Ela conta que, depois de tanto choro, tantas dificuldades e dores, teve um dia feliz e foi ali que sua restauração começou a acontecer. Atualmente, Cibele realiza todas as suas atividades normalmente e ainda faz parte do grupo de louvor da igreja onde frequenta.
“Eu tive que reaprender tudo. Eu pedi estratégias a Deus para vencer. Antes, eu não conseguia mais preparar a comida e nem mesmo fazer coisas simples como escovar os dentes sem precisar da ajuda de alguém. Mas Deus ensinou como me levantar desse tombo”, afirmou.
Como se levantar após um tombo tão drástico?
A resposta de Cibele a essa pergunta é clara: “Deus me mostrou que quando levamos um tombo assim, não se levanta e sai correndo. Primeiro temos que sentar, depois nos ajoelhar e depois ficar de pé. Daí vem os primeiros passos, só depois você pode correr e depois, quem sabe um dia, voar?! É assim que se faz”.
De acordo com Cibele, é preciso respeitar o tempo em que nos encontramos, independente de como ele seja: “É preciso respeitar os limites. Deus me mostrou que a alegria iria voltar, mas era necessário respeitar o meu luto e isso acontece devagar”.
“Eu já tinha uma família quando perdi minha visão e eu sabia que o Senhor continuaria me ajudando a cuidar dela”, disse ao revelar que a mãe a ajudava cozinhando pratos deliciosos.
“Mas eu quero que meus filhos se lembrem do sabor da minha comida. Não quero que meus filhos tenham lembranças de uma mãe depressiva ou largada na cama, mas de uma mãe que lutou todos os dias”, disse.
“Deus me deu vontade de viver novamente, colocou novos sonhos em meu coração. Isso não é algo humano, só Deus pode fazer isso, só Jesus pode fazer isso”, comemorou.
Sobre viver um milagre na atualidade, Cibele concluiu: “A ciência já me desenganou, os médicos não me dão esperança, mas eu acho isso ótimo, porque o Deus que eu sirvo não mudou. Eu sei que Deus pode fazer um milagre em minha vida e pode me fazer voltar a enxergar”, finalizou.