Missionários americanos relatam caos no Haiti: ‘Os tiros nunca param’

O grupo envolvido em trabalho missionário está abrigado em hotel em meio à violenta tomada de controle por gangues.

A missionária norte-americana Jill Dolan, que dirige um orfanato no Haiti. (Foto: Arquivo pessoal)

Missionários dos EUA presos no Haiti temem não serem resgatados, em meio à escalada da violência de gangues e à desordem que assola o país mais pobre das Américas.

O caos em que está mergulhado o Haiti, com o domínio das gangues, enorme crise de segurança e até a presença de corpos amontoados nas ruas, deve piorar.

Sem capacidade de organizar o país, nesta terça-feira (12), o primeiro-ministro Ariel Henry, renunciou ao cargo. Ele estava na África negociando o envio de uma missão da ONU, liderada pelo Quênia, para combater a violência em seu país.

Sua renúncia foi reconhecida pela Comunidade do Caribe (Caricom).

"Tomamos nota da renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry", declarou Mohamed Irfaan Ali, presidente da Guiana e da Caricom, anunciando "um acordo de governança de transição que abre caminho para uma transição pacífica de poder".

‘Os tiros nunca param’

Em meio aos confrontos entre gangues, dezenas de missionários estão retidos no país, como é o caso de Jill Dolan e a sua família, abrigados num hotel improvisado na capital Porto Príncipe – onde a maior parte da violência se concentrou. Eles esperam ser evacuados, enquanto tiros são ouvidos do lado fora dia e noite.

Dolan, que colabora na gestão de um orfanato no Haiti por meio de sua organização Love A Neighbour, relatou que está em contato com a Embaixada dos EUA, porém, até o momento, pouca assistência foi disponibilizada.

“Na verdade, o que eles dizem é algo como, 'Cuidado'. Eu apenas penso, 'Ok, bem, isso não é realmente útil'”, disse Dolan.

"Meu medo é que acabemos no meio de algo realmente perigoso. Já estamos na linha de frente disso, estamos em uma área ruim," disse Dolan, acrescentando: "É meio deprimente. Os tiros nunca param."

Na capital, a ordem civil desmoronou, com membros armados de gangues e saqueadores percorrendo as ruas em busca de sangue.

Milhares de pessoas já fugiram no meio do caos, e relatos descrevem corpos se acumulando nas ruas, pois não há ninguém para removê-los, resultando em um cheiro intenso de morte pela cidade.

Lynn, que solicitou ao NY Post que a identificasse apenas pelo primeiro nome, e Miriam Cinotti, estão envolvidas em trabalho missionário com Dolan e estão retidas em uma área diferente do Haiti, que foi declarada em estado de emergência.

Violência extrema

A área onde estão ainda não foi invadida, porém estão preocupadas e tentando deixar o local. Entretanto, ambos os aeroportos internacionais do país estão fechados devido à violência e aos ataques.

As forças militares americanas fizeram um transporte aéreo de pessoal da Embaixada dos EUA durante o fim de semana e foram mobilizadas para fornecer segurança adicional na embaixada.

“Ninguém entrou em contato conosco ou algo do tipo. E é claro, quando vimos os trabalhadores não essenciais sendo resgatados, pensamos bem, talvez eles voltem e comecem a evacuar Porto Príncipe e depois tenham um avião para todos os outros,” disse Cinotti, acrescentando que veio ao Haiti para ajudar a resgatar 80 meninas da violência das gangues.

“Estamos preocupados porque estamos num país onde não sabemos o que vai acontecer. É imprevisível o que está acontecendo, não sabemos”, disse Lynn, expressando preocupação com a condição de seu marido como diabético e sua capacidade de obter medicamentos.

Domínio das gangues

A violência eclodiu no Haiti em 29 de fevereiro, quando gangues iniciaram ataques e incêndios em delegacias de polícia e edifícios governamentais, mergulhando o país no caos.

Gangues tentaram assumir o controle do principal Aeroporto Internacional Toussaint Louverture, que está fechado desde a semana passada.

As prisões foram invadidas, resultando na libertação de cerca de 4.000 detentos, enquanto estradas principais foram fechadas com bloqueios impostos.

O principal porto da capital foi fechado, causando escassez de alimentos e água. Escolas, bancos, órgãos governamentais, postos de gasolina e muitos hospitais também estão fechados. Os poucos hospitais que ainda estão operando enfrentam falta de medicamentos.

Guerra civil

Kim Patterson, que está tentando retirar seu pai, um ex-fuzileiro naval, do Haiti, disse ao NY Post que ela e seus irmãos esgotaram todas as opções disponíveis. Ela afirmou que a Embaixada dos EUA "não ajudou muito" a família.

“Estou chorando todos os dias, nunca na minha vida me senti tão impotente como me sinto agora, porque sou uma mulher do sudeste da Geórgia, apenas tentando tirar meu pai de um país do Terceiro Mundo que está no meio de uma guerra civil”, disse Patterson.

O líder da gangue Jimmy Chérizier, também conhecido como "Barbecue", assumiu a responsabilidade pelos ataques e prometeu capturar funcionários do governo haitiano.

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