Cristãos enfrentam repressão dentro e fora da prisão
Por conta da pressão do governo, algumas igrejas têm suas atividades limitadas ou passam a atuar de maneira ilegal
Desde que protestos relacionados à reforma previdenciária, em 2018, se tornaram violentos, a Nicarágua caminha rumo a um estado totalitário comandado pelo presidente Daniel Ortega, sua esposa e a vice-presidente, Rosario Murillo. Qualquer forma de oposição é proibida pelo governo.
Como parte das medidas, o regime prende e processa líderes de igrejas, bem como igrejas e organizações da sociedade civil. Em janeiro, nove pastores foram presos sob acusação de lavagem de dinheiro e 16 organizações não governamentais, incluindo católicas e protestantes, tiveram sua condição legal cancelada. Em 2023, “ao menos 342 organizações ligadas a igrejas cristãs foram proibidas de exercer atividades e tiveram suas propriedades e instalações confiscadas”, segundo um relatório de especialistas da ONU.
Pastores respondem de formas diferentes à perseguição, de acordo com um colaborador da Portas Abertas no país. Enquanto o medo leva alguns a se manterem cautelosos, outros não se rendem à pressão. “As estratégias do governo para manipular organizações, como a exigência de atualizações mensais de documentação ou a exigência de novos documentos, limitam o funcionamento da igreja. Assim alguns pastores desistem de atuar de forma legalizada”, conta o colaborador, cujo nome não pode ser mencionado por razões de segurança. Como resultado, diversas igrejas passaram a se reunir nas casas.
Algumas mulheres cristãs que estão na superlotada prisão La Esperanza, em Tipitapa, no departamento de Manágua, na Nicarágua, foram tratadas de maneira desumana após orarem em voz alta. Entre as punições estão não terem mais direito a tomarem ar fresco no pátio e agressões durante interrogatórios. Ter uma Bíblia ou qualquer material impresso também é proibido.
Preocupação com o futuro
Entre o início das novas medidas, em 2018, e junho de 2023, cerca de um milhão de pessoas fugiram do país em busca de refúgio no exterior. Isso equivale a quase um em oito nicaraguenses, segundo o relatório da ONU. Outros, entre eles líderes de igrejas, foram exilados pelo regime de Ortega. Um exemplo é o líder cristão Rolando José Álvarez Lagos que, junto com outros 19 clérigos, foi expulso da Nicarágua em 14 de janeiro.
Em fevereiro de 2023, a Nicarágua soltou 22 prisioneiros políticos e os forçou a deixar o país imediatamente, retirando deles sua cidadania. A igreja sente a perda de seus membros e se preocupa com o futuro. “A longo prazo, a igreja é afetada por isso. Famílias estão se desintegrando e há um crescente abandono de crianças e adolescentes que acabam sendo criados por avós ou outros parentes”, conta o colaborador da Portas Abertas.
Em 2023, a Nicarágua assumiu a última posição na Lista Mundial da Perseguição (LMP), uma classificação que apresenta os 50 países onde é mais difícil viver como cristão. Desde então, o país subiu drasticamente e agora ocupa a 30ª posição na LMP 2024. Em novembro e dezembro do ano passado, a Portas Abertas auxiliou cerca de 300 líderes de igrejas com ajuda que inclui distribuição de alimentos, orientação jurídica, além de apoio espiritual e psicossocial.