Alguns missionários que estavam em regiões perigosas viram pessoas sendo queimadas.
(Foto: Montagem/Guiame | Arquivo pessoal de Priscila Jodas Pyrhus e Reginald Ferreira Pyhrus) |
O Haiti está em crise novamente. Depois do assassinato do presidente Jovenel Moise, em julho de 2021, tanto o povo haitiano quanto as igrejas e missionários que vivem no país foram afetados.
A agitação civil e a onda de violência de gangues armadas tem levado o país ao caos. Em entrevista ao Guiame, a missionária Priscila Jodas Pyrhus, que vive no Haiti desde 2018, disse que a situação piorou bastante.
“Depois que o primeiro-ministro tomou posse, ele nunca mais saiu do poder e as coisas foram se agravando, as gangues tomaram a cidade de Porto Príncipe e nos impediu de continuar com os trabalhos em Bon Repos”, contou ao mencionar que depois da confusão, Ariel Henry renunciou ao cargo e anunciou sobre o governo de transição para dar início ao processo das eleições.
Priscila conta que, durante essas decisões, as gangues rebeldes invadiram duas prisões e soltaram mais de 4 mil presos, fazendo aumentar a insegurança: “Eles invadiram o aeroporto e atiraram em algumas aeronaves”.
“O aeroporto, o porto e a fronteira com a República Dominicana foram fechados. O Haiti ficou sitiado, não tinha como entrar ou sair. Foi quando vários países decidiram evacuar seus cidadãos”, continuou ao explicar que a Embaixada Brasileira entrou em contato para saber se ela queria voltar para o Brasil.
‘Tive que deixar meu marido’
A missionária aceitou a proposta do Brasil e saiu do Haiti: “Perdemos um primo do meu marido em meio a essa guerra. Depois disso, decidimos aceitar a proposta de evacuar. Ao todo, sete missionários aceitaram e fomos levados de helicóptero até uma cidade da República Dominicana, no dia 10 de abril”.
“Entre os missionários que saíram do Haiti, alguns contam que viram pessoas sendo queimadas. Eles estavam no meio das gangues, em regiões bem perigosas, com tiros e balas perdidas”, contou.
A Embaixada Dominicana enviou uma van para levar os missionários até Santo Domingo: “De lá, foi cada um por si para retornar ao Brasil. Foi uma decisão muito difícil porque tive que deixar o meu marido que é haitiano”.
A missionária é casada com Reginald Ferreira Pyhrus. Ele continua no Haiti porque não conseguiu visto para entrar na República Dominicana: “O relacionamento entre os dois países não é bom e, por questões políticas, eles não permitem que haitianos entrem no país, mesmo com o visto”, explicou.
Com o aeroporto do Haiti fechado, a única fuga no momento é a República Dominicana: “Não existe outra forma de sair do país, então meu marido ficou preso lá. Eu peço orações para que ele consiga sair de lá de alguma forma”.
‘Não está nada fácil’
A missionária explica que com toda essa confusão, a situação alimentar no país também piorou. “Faltam alimentos, não está nada fácil. Apesar disso, meu marido continua com os projetos em nossa casa e eu estou dando aula online”, compartilhou.
Apesar de não haver perseguição religiosa declarada no país, a violência das gangues impede o evangelismo. “Por conta da violência não é possível realizar as ações de evangelização, tem muita gente saindo do Haiti”.
Enquanto Reginald continua tentando ser evacuado do país, Priscila explica que o casal planeja voltar para o Haiti, em julho, para continuar o trabalho de missões com as crianças. “Enquanto estou aqui no Brasil, vou cuidar da saúde”, ela disse.
Durante a entrevista, Reginald enviou um áudio dando detalhes sobre a questão da perseguição aos cristãos: “Tem acontecido nos últimos anos, é bem recente. Tem dois tipos de gangue aqui, os que tomam essa decisão e os que são influenciados”.
De acordo com o missionário, os rebeldes por opção atacam a Igreja. “Eles sequestram pastores, líderes e fieis. No ano passado, eles entraram em igrejas e as queimaram. Invadiram a Primeira Igreja Batista de Porto Príncipe, quebraram tudo e levaram vários instrumentos”, relatou.
“A violência acontece porque a Igreja prega contra a maldade, contra o tráfico, a mentira, o roubo e a corrupção. E se pregamos contra o que eles estão fazendo, nos tornamos inimigos deles. Pode não ser uma grande perseguição, mas está evoluindo nos últimos três anos. A Igreja no Haiti já foi muito respeitada, mas agora eles estão batendo de frente”, concluiu.