Ondas de violência na Índia

Entenda os conflitos e as dificuldades enfrentados pela comunidade cristã no país

Uma das igrejas destruídas em meio à onda de violência que atingiu o Norte do estado de Manipur, na Índia

Nos últimos anos, a Índia tem sido palco de diversas ondas de violência. E apesar de toda a população ser afetada, os cristãos geralmente são o grupo mais afetado. Entre as principais estão Manipur, com início em maio de 2023, Chhattisgarh, entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, e Odisha, em agosto de 2008. Além dessas, também ocorreram inúmeros outros acidentes. No estado de Chhattisgarh, por exemplo, houve protestos em massa contra cristãos por supostamente estarem convertendo hindus a força. Os protestos duraram meses e foram acompanhados de ataques.  


No estado de Punjab, um líder sikh também foi responsabilizado por supostas conversões forçadas. Como resultado ocorreram diversos ataques a igrejas e cristãos. Em vilarejos, pessoas repetidamente agrupam-se contra os cristãos. Um exemplo disso ocorreu em setembro de 2020, quando quinze famílias foram expulsas de suas casas em Singanpur (Chhattisgarh) por cerca de três mil aldeões.
 


Quanto à onda de violência mais recente, que atingiu o Norte do estado de Manipur, teve início em 
3 de maio de 2023. Como resultado, centenas de igrejas e propriedades cristãs foram destruídas, mais de 100 cristãos foram mortos e milhares de famílias deslocadas. A violência envolveu dois grupos étnicos – meitei e kuki. Tudo começou quando a Suprema Corte de Manipur garantiu aos meitei o status de “tribo registrada”, o que foi visto pela tribo kuki como algo que privaria seus direitos de minoria. Isso deu início a um protesto pacífico, mas que acabou se tornando violento devido a ação de malfeitores não identificados da comunidade meitei. 


Apesar do primeiro-ministro indiano alegar uma melhora significativa em Manipur por conta da intervenção do governo central e estadual, o parceiro local Priya Sharma afirma que isso difere muito da realidade atual. “É uma ironia essa afirmação vir de um líder que não visitou o estado desde o início da violência e permaneceu em silêncio durante todo esse período”. 
 




Mesmo depois de um ano do início da violência, os moradores continuam testemunhando confrontos, trocas de tiros, mortes e violência entre os extremistas meitei e kuki. As famílias que fugiram ainda não foram capazes de voltar para casa e continuam abrigadas em campos de deslocados ou estados vizinhos. Quando tudo começou, a maioria das famílias fugiu apenas com a roupas do corpo, sem conseguir pegar documentos e itens essenciais. Então, quando um membro da família voltava para tentar pegar esses itens, acabava sendo atacado e morto. 
 


Além disso, igrejas que foram destruídas e incendiadas também precisam ser restauradas. Entretanto, na área de domínio kuki, cristãos conseguiram se reunir durante a semana da Paixão e para celebrações de Páscoa. Já os cristãos meitei ainda estão incapazes de se reunir para adorar devido a ameaças para que assinem cartas que denunciem a fé cristã. Apesar disso, a maioria se recusa e continua vivendo frente a ameaças e incertezas.
 


Kiran*, um pastor meitei de Imphal compartilha: “Eu preciso encontrar os cristãos secretamente. É desanimador sermos incapazes de nos reunir para adorar livremente. O corpo de Cristo em Manipur está sofrendo. Há divisão, ódio e inimizade, mas creio que com paciência, o Deus de todo entendimento restaurará a paz e a boa vontade aqui”.
 


Já Minthang*, um pastor kuki, teve que fugir de sua vila após ver sua casa e igreja serem incendiados. Ele conta: “Eu nunca imaginei testemunhar uma situação tão cruel em meu estado. Nós estávamos vivendo felizes e tendo comunhão, mas agora a situação é instável, com confronto de ambas as comunidades. Quando a violência começou, eu achei que duraria um ou dois dias, porém já faz um ano e continuamos ouvindo som de tiros e bombardeios. É doloroso ver o estado se tornar um campo de batalha. Acredito que Deus está atento a nossa situação e devolverá nossa paz e unidade”.
 


Esperança e resiliência
 


Cristãos kuki reunidos para cultuar e louvar a Deus mesmo após serem deslocados pela violência em seu estado 


Famílias com casamento intercomunitário foram obrigadas a viver separadas, apesar do desejo por estarem juntas. Entretanto, não parece haver nenhuma esperança para que sejam reunidas. Zozam*, uma kuki deslocada casada com um meitei há 30 anos está sendo obrigada a viver separada desde que a violência começou. “Todos os dias eu falo com meu marido pelo telefone. Ele está sozinho e chora conosco, pois nem meus filhos podem viver com ele. Eu achava que só a morte poderia nos separar, então nunca imaginei que a violência separaria minha família. Nosso único desejo é estarmos juntos, porém somos incapazes de encontrar uma forma”, ela explica.
 


O parceiro da Portas Abertas, Priya Sharma, relata sobre a situação: “Até agora, mais de 200 cristãos kuki e meitei foram mortos, mais de mil vilas incendiadas e mais de 700 igrejas destruídas e incendiadas. Cerca de 10 mil casas foram saqueadas e incendiadas e mais de 70 mil famílias deslocadas, sendo forçadas a viver em campos de deslocados ou com parentes em estados vizinhos”.
 


Apesar de tantas perdas e dores, a boa notícia é que cristãos deslocados deram início a novos ministérios nos lugares em que se estabeleceram. Com isso, novas comunidades estão sendo formadas, resultando em pequenos projetos ou programas de geração de renda. O parceiro local da Portas Abertas, Nitya Kapur*, expressa sua felicidade por ver que, em tempos de adversidade, os cristãos deslocados encontram maneiras de se ajudar.
 

*Nomes alterados por segurança.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem